Entrou em moda nas últimas duas ou três décadas um novo
modus operandi para suprimir direitos civis e perpetuar um grupo no poder,
ou seja, Ditadura. Valem-se de processos democráticos para se elegerem,
mas ao longo se apoderam das instituições e vão aos poucos transformando a coisa
até chegar num ponto em que a Democracia contrai-se irreconhecível.
Começa assim, primeiro você pega um país com a população mergulhada num
analfabetismo histórico e alarmente, ou cria-se um clima de medo extremo, depois
você monta uma constituição meia boca que dá tanto direitos a mocinhos como a
bandidos, ou de cara muda pontos cruciais na que já existe; junta a essa receita
uma maioria de políticos corruptos e uma minoria de políticos condolentes.
Acrescente um judiciário igual aos próprios políticos e uma pitadinha de
empresários cafajestes.
Misture bem e vai acrescentando aos poucos mais três ingredientes fundamentais:
uma imprensa fútil, uma cultura submissa à grana, uma intelectualidade
indulgente, e uma classe artística pernóstica e narcisa-hedonista. Deixe essa
mistura pegajosa descansar por um tempo como se tudo estivesse perfeito.
Então, é inevitavel, aparecerão os eternos salvadores da pátria. O
‘candidato do povo’, o amante da ‘democracia’. Não importa de onde venha, sempre
vai se apresentar como ‘democrático’, essa palavra é a chave de tudo.
Ele vai dizer que é o melhor cara no pedaço para governar o país. Em geral é um
país em frangalhos. Saúde precária, educação idiotizante, forças policiais
brutais e mal pagas, estradas ruins, sem esgotos, salários baixos
e atrasados, mão de obra desqualificada, cheio de mordomias e privilégios para os dominantes. Mas o
candidato à presidência se dirá um cara de família, um sujeito temente a Deus e
que irá resolver todos os problemas.
Se os governos anteriores eram de Direita, ele certamente será da Esquerda
amaldiçoando a Direita nos discursos e postagens. Se os últimos governos foram
de Esquerda, ele será de Direita e fará discursos ferrenhos contra a Esquerda. E
se o desgoverno vier de uma sucessão de governos tanto de esquerda como de
direita, esse candidato salvador da pátria se dirá de Centro.
Outra expressão chave e a mais perigosa é ‘Forças Armadas’. Esse candidato
mexendo os pauzinhos certos terá a complacência ou total apoio das forças
armadas. Nomeará para o seu governo o maior número possível de adeptos féis, e
depois virão os seguidores fanáticos para todos os cargos da ‘democracia’.
Irá aos poucos aparelhar o estado até se sentir
forte o bastante para propor mudanças na constituição para lhe dar maior poder.
Poder para cassar canais de TV, jornais, rádios e a internet. Vai querer o poder
para, a seu gosto, nomear juízes, deputados, prefeitos, etc. Vai fechar o STF e
suas instâncias. Vai querer fechar o senado e o congresso. Vão perseguir
minorias e dizer que o país está acima de tudo. E quando isso acontecer, não
mais haverá eleições livres e, então, só então, todos entenderão que já vivem
numa Ditadura.
Surgirão protestos, canções, heróis, profetas do apocalipse,
cúmplices e apaziguadores. Greves, pancadaria, prisões, desaparecimentos, mortes
e assassinatos. Desemprego, desabastecimento, fome e emigração...
Entretanto, você ainda poderá decidir ‘democraticamente’ se quer uma Ditadura de
Esquerda, uma Ditadura de Direita ou um cara de Centro, que em aparente
antagonismo, mantêm a essência em comum, conservam as
fortunas e a pobreza bem distantes uma da outra, como sempre.
Bem, esta é a receita do bolo chamado Ditadura.
Quisera que a luzinha no fim do túnel não fosse uma
locomotiva a nos atropelar, como bem diria Carlos Drummond de Andrade, e nem que
a esperança fosse a última a morrer. Quisera acreditar num futuro magistral
cheio de gente feliz e criancinhas gordinhas como num comercial de fraldas. Mas,
quer saber? Eu acredito, eu acredito!
Há pelo menos duas coisas boas para se comemorar nessas eleições de 2018, o voto
do cidadão botou um número inédito de políticos desprezíveis para fora, outros
tantos ainda ficaram, mas é uma luzinha no fim do túnel... (sic!)
E Gilmar Mendes, juiz do supremo, que nesse período do 1º e
2º turno das eleições, não mandou soltar nenhum bandido.
Viva! Viva!!
Talvez seja assim mesmo o caminho para uma Democracia onde se vota em
tudo, desde salários pisos e tetos para empresas públicas quanto para executivos
de empresas privadas. Espera-se numa democracia de verdade o voto do cidadão
para qualquer cargo público e qualquer despesa pública. Mas enquanto isso não
acontece, e a gente tem que viver nessa democracia meia boca, usei a palavra
‘fralda’ para nos remeter à máxima de um autor desconhecido, imputada sem provas
a Eça de Queiros, e a outros. Ela afirma:
Políticos e Fraldas devem ser trocados com frequência, pela mesma razão.