EFEITO GAUCHE

Efeito Gauche
revisão Iracema Cruz
editoração Ferdinando Blun
conto Criminal
capa e edição hh



*  obra ficcional, em um episódio, 23 pgs.

  

I    

VILMA & BARNEY



Não é a primeira vez nesta noite que me pergunto o que estou fazendo aqui. Meia hora de espera... Nada ainda. Às vezes fico em dúvida, mas os dados já estão rolando. Boteco lotado. Essa trinca de bêbados e dopados no palco canta e executa seus instrumentos como se esganasse um saco de gatos. Ninguém merece! Mulheres ordinárias, frias, de olho no dinheiro. É tudo que conta. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Quanto mais rápido os clientes, melhor para os negócios. Pena que esses idiotas são muito lentos.
Só fracassados no balcão e nas cadeiras. Um bando deles. Alcoólatras, viciados, putas. Todos atrás de um ‘fornecedor habitual’, outros querendo uma chupada de ‘10 real’... e eu aqui, no meio do lixo.
Agora sim, duas novidades, uma no palco e outra no balcão. A trinca de gatos, graças a Deus, foi embora. Um palhaço vestido de mulher imita uma diva que morreu de overdose há 30 anos. O som na caixa é estridente. A boca mexe num corpo de marionete dedilhada por um lesado metal de dedos aleijados. ‘ahh!! esse álcool pouco me ajuda... Stress é mau humor!’
— O que disse?
— Nada! Para de ficar ouvindo conversas dos outros e vai atender suas putas aí no balcão, ôh chato.
— Que conversa? Deixa de ser grosso, bebum! Fica aí resmungando sozinho, porra! tnc!!

 Sujeitinho enjoado esse garçom, viu!?... Aqueles são eles? Fred e Barney? os ‘melhores’ detetives da Civil  rsrs  Dois patetas rsrs. Finalmente estão se mexendo.

— ... e aí, nóia? Tá ventando no fundo da sarjeta?
— Não sei, mas quando encontrar sua mulher lá eu pergunto pra ela.
— Olha, seu viado!!
— Calma, Norberto... é só um drogado de boca aberta! Olha só! Imundo e fedorento! Mal se aguenta de pé!           
— Que surpresa! Olha a Manchete: “Fred amansa Barney”  kkkk

I

BUMMM!!!


Nem sabe dar um soco que preta o idiota... na boca do estômago. Dói, mas nem tanto. — ... é tudo que você tem, Fred?  rsrs
— Meu nome é Clemenson! Se me chamar disso outra vez te mando 'pro' Pronto Socorro! Entendeu?!
— Entendi... Fred!


BUMMM!!!


Doeu menos desta vez. Já o esperava. Ué? o que é isso? Hoje é mesmo a noite das surpresas. Barney impediu outro direto do Fred. Eu já o sentia bem no queixo.   

— O capitão não vai gostar de entregarmos o pacote amarrotado  rsrs  Revista o cretino!
— Quem?... Ouvi direito? o que o velho quer comigo?
— Por onde você tem andado, seu asno? Não vê televisão? Na sarjeta não tem jornal? Nem pega Rádio lá? Internet? rsrsrs Vamos indo! Levanta! Sei que você gosta de apanhar, mas hoje vamos te dar refresco... ou seja: vamos bater pouco  ahahah
— Não estão com ele... onde você escondeu elas?
— Falam de 'armas'? mais de uma? Então, vocês James Bonds ficaram ali todo esse tempo me espionando pra descobrir onde escondi 'as armas' de um crime? kkkkk


BUMMM!! BUMMM!!


— Vamos pro capitão!
— Esse vagabundo vai empestear o carro todo!

Rap no som do carro, a cidade vai passando, bilionária, suja, cheia de bandidos, gente mal vestida, mau cheiro e lixo por toda parte. No perfume, acho que estou ajudando um pouco nisso  rsrs  A voz de caverna manda no rap ‘Não se engane, São Paulo está morta, é por isso que não dorme!’

A delegacia é uma pocilga. Paredes trincadas e sujas. Móveis velhos e apodrecidos. O piso solto, desgastado. Viaturas e chapas frias? Tudo sucata. Computadores e equipamentos? Lixo. Celas superlotadas? Nem se fala. E os 'polícias’? a maioria donos de carros de luxo. E os ternos sob medida? Os relógios reluzentes de delegados e diretoria? Como conseguem? Milagres acontecem... certo? rhe rhe rhe

Mas o ‘Capitão’ ainda quer me ver. Não é capitão porra nenhuma. Não existe isso. Seu posto é ‘Delegado’. Nós o ‘promovemos’ a ‘capitão’ depois de uma pescaria em que ele apareceu com uma lancha irada puxada num motorhome. Barco e ônibus brancos com belos detalhes na pintura. Custou uma grana preta! Mandou pintar nas duas laterais do barco e na popa o nome da colega casada que comia há uns 10 anos. Sua mulher descobriu, colocou o cara para fora de casa com divórcio e tudo. Aí, por causa do barco, motivo da confusão, os colegas passaram a chamá-lo de ‘capitão’  kkk  ‘Capitão Gancho’!  kkkk

— Senta aí. Você e esse risinho debochado... Queria ver com meus próprios olhos... um reles viciado... Me contaram, mas não acreditei... Eis aqui um exemplo típico do que as drogas podem fazer a um homem, não importa a idade que tenha!! Há menos de oito meses esse lixo era a banda limpa e séria da PF aclamada pela mídia. Agora é só mais um zumbi nas ruas!
— Capitão, dá pra deixar o sermão e me explicar o que estou fazendo aqui?
— Eu não acredito... estou olhando pra você, e ainda não acredito. Essas unhas, esse mau cheiro. Esses dentes amarelos... Que roupas nojentas!! Me dá Vergonha! Você me Envergonha!!
— ihh... sem sermão, por favor. Ainda mais gritado. (... minha cabeça tá doendo)
— Traga um café pru palhaço. Vamos aproveitar que ele está de bom humor.

— Por que Tom e Jerry me trouxeram aqui?
— kkk  Tom e Jerry??  kkk não eram Fred e Barney?  rsrsr
— Eles estão mais para Barney e Vilma...
— Ah rahh não falei que o palhaço tá de bom humor??  O certo é Fred e Vilma! Você não teve infância?
— Tive, ‘capitão’, mas é que Barney também tem uma amante, entendeu?
— Escuta, seu imbecil! Você continua o mesmo desgraçado de sempre! Eu tenho um cadáver e tenho você na cena do crime!! Eu pedi a esses dois pra te levarem direto para lá, mas me disseram do seu estado e eu quis ver primeiro! Se continuar com suas gracinhas, eu mesmo te dou um banho de mangueira e depois escovo seu terno! ok, imbecil?!

 ‘Escovarem seu terno’? Tempos que não ouço isso, só 'coroa’ mesmo  rsrs  Preciso realmente de um café. — E aí? vamos à cena do crime ou vamos ficar aqui de conversa mole a noite toda?
— Você parece não se importar com nada, não é? Egocêntrico, desleixado, mimado e abandonado como todo viciado!
— Capitão, vamos autuar esse cara logo e fim de papo! Já é quase madrugada!
— Autuar? O quê?!

— Ok, bora !
— Ei! Larga meu braço!     
— Se eu te largar, você cai!! rha rha rha
— Calma, Clemenson. Esse passarinho ainda vai cantar muito esta noite...

A cena do crime está mais para um açougue de favela. Sangue da porta de entrada até o quarto, onde o horror provavelmente aconteceu. Só faltam moscas e mosquitos rsrs Mas os abutres de blogs, jornalecos e programas de TV do mundo-cão já infestam a frente do prédio. Pelo menos me deixaram cobrir a cara, ou já estaria nas redes com um monte de idiotas ‘curtindo’ e perguntando ‘É o assassino?’ ‘Alguém pegou a cara dele’?

O corpo sobre a cama, ensanguentado. Tiros e facadas. Manchas de sangue para todo lado. Borrifos e marcas de mãos, braços e costas esfregadas pelas paredes e portas. Pegadas de sangue no chão. Marcas de sapatos, botas, tênis. Até sandálias. Peritos e policiais não se importam. Pisam nas poças, tocam em tudo sem luvas. Largam suas bandeirinhas de marcação por todo canto. É uma zona. O Crime agradece, para ele é melhor assim, do jeito que está, todo mundo ganha. Só as vítimas perdem. Foda-se!

— Agora quero ouvir sua versão... tem digitais suas pra todo lado! O que aconteceu aqui?
— Todo mundo sabe, era prostituta. Fiquei com ela umas vezes. Só isso.
— Ficou com ela ‘umas vezes’? Escuta, tem tantas digitais suas que parece que você morava aqui há dez anos!! O que pensa que somos? Trouxas?!... Não ria!! Você ficou nesta casa, no mínimo, meses. Se é que não morava aqui... Mas o quadro é o seguinte... beberam, transaram, consumiram drogas e as coisas fugiram do controle, certo? Começaram a discutir por qualquer bobagem, ela partiu pra cima de você com uma faca. Lutaram. Você tomou a faca, é mais forte. Então, a esfaqueou até a morte. E depois, sem conseguir se conter, dominado pela droga, completamente fora de si, descarregou a arma nela... Foi assim, não foi? Ou você simplesmente entrou aqui atirando e depois usou a faca só por diversão?
— Não! Você não poderia estar mais enganado! Quando eu saí, ela estava viva e bem!
— O que aconteceu, então? Aqui o papel do legista, sete tiros, vinte e duas facadas!
— Não tenho a menor ideia. Eu – não – estava – aqui!!  Quer que eu desenhe?!
— Vou falar bem baixinho no seu ouvido pra você lembrar com quem está falando... Dê mais uma de engraçadinho, pilantra!! Eu te enterro num buraco que nem o diabo vai te achar. Nem mais uma piada, nem mais uma ironia!

— Rham rham
  EU não ouvi...
— Certo.
— Certo...?
— Certo, capitão.
— Bom, bom... Então você estava aqui?
— Quando a deixei, ela estava viva.
— A que horas foi isso?
— Capitão, chegue aqui, por favor...

 O que eu tenho de aguentar?! Ainda bem que ‘Vilma’ o tirou do meu pescoço, mas claro, ele vai voltar. O corpo ali na cama. Não consigo parar de olhar para ela. Nua, em sangue, a noite fria, muito fria. Nem a cobriram com os lençóis. É uma cena triste de se ver. Mas a vida é assim. Você faz qualquer coisa para conseguir seus objetivos, porque, nesta vida, só estamos de passagem. Quando sua hora chega não tem apelação. Você morre e pronto. Não acredito muito no destino, mas alguma coisa tem a ver. Pode ser que uma coisa ou outra esteja mesmo escrito em algum lugar e vai mesmo acontecer. Mas quem pode prever isso? Quem pode ler o que vai acontecer? Quisera eu poder ler as estrelas, ou ouvi-las  rsrsr  Qual é a hora em que percebemos que tudo deu errado? Vê-la ali, congelando aos poucos nesse banho vermelho, me embrulha o estômago. Mas agora é tarde demais para voltar atrás...

 — Clayton, você tá liberado!
— Quê?
— Pode ir... e procura uma boa clínica, se interna! ah, e um bom psicólogo também!

— Então, posso ir embora?... assim, sem mais nem menos? Você recebe um telefonema e pronto! Posso ir embora!
— Isso! Vaza!! Todas as acusações foram retiradas.

— Ok... Ordem de cima, né?
— Se eu fosse você ficava calado, quietinho e me mandava!

— Você é um sábio, capitão. Mas vou te dar um conselho de graça. Deixe o governador fora disso  rsrs  e vê se me esquece, falou?
— Ei ei ei!! Peraí
!! Volta aqui! O que você disse?
— Me ‘esquece’! Me deixa em paz!
— O governador... o que você sabe?
— Ora... o público e notório... ele bancava a morta ali.
— Escuta aqui, seu viciado de merda!! Esse governador não banca nem a mulher dele!
— Eihh, meu pescoço! Vai rasgar minha camisa!
— Escuta, desgraçado. Se você der um pio lá fora pra esses urubus paparazzi, você morre! Entendeu?!
— Sabe, capitão?... Você tem um mau hálito da porra!!

 

BUMMM!!!
BUMMM!!!

 

— Levanta, lixo humano! Norberto! Clemenson! Levantem esse idiota e algemem! Não deixem ele falar com ninguém. Me dê o celular dele?
— Não tem, senhor. Já vendeu há muito pra comprar pedra!  rsrsr  Mas não é pra soltar mais?
— Não! Revistem-no, caralho!! Não deixem falar com ninguém, nem telefonar! Nada! Eu o quero isolado e vigiado. Leve-o para um quarto desses aí longe do tumulto e vigie-o de perto.
— O que você vai fazer?
— ‘Você’ ??
— Desculpe, ‘O que o senhor vai fazer?’
— Não sei ainda. Mas isola ele! Preciso checar esse lance do governador. Tudo tá muito esquisito. Acho que 'esse mato tá cheio de coelhos!'  rhe rhe
rhe  
— Em qual desses quartos, capitão?
— Porra, Norberto!! Eu tenho que pensar em tudo?! Coloque essa desgraça em qualquer quarto aí! que não tenha portas no fundo nem janelas, caralho!!

III
III
III
III

II 
III
O ZUMBI
IIIIII

III

— Eu quero saber tudo! Não me esconda nada!!
— Pô, capitão! você me tranca com esses dois guarda-roupas me espiando o tempo todo, manda me algemar e quando finalmente eu consigo tirar um cochilo você entra aqui batendo porta, gritando, me acordando...
— Cale a boca, otário... e é ‘Senhor’!! Entendeu?!
— Sim, ‘senhor’...  rsrs
— Você é abusado, né, zumbi? Dando uma de que ‘Não liga pra nada’. Mas guenta que eu ainda vou cuidar de você diretinho. Porque agora, eu quero que você me explique por que, quando citei o nome da morta e o seu nome, o Secretário de Justiça do Estado pulou igual peão montado um boi bravo?
— Como assim? Você o chamou aqui?
— Não precisei! ele mandou o promotor e toda sua equipe pra cá, assim, de repente! sem nenhum pedido nosso! O que você sabe? O que tem o governador com a puta aí?
— Com dedo na cara eu não consigo pensar!
— Vai ter na sua cara mais que meu dedo, seu filho da puta!!
— Não sei o que ele tem a ver com isso... quem sabe ele também comia a mocinha?  rsrsr
— Você quer brincar comigo? Quer tirar sarro?! Vai sair daqui num saco, cara!
— Acho que ficou com medo do nome dele aparecer e mandou os caras aqui pra dar um cala boca na sua turma e em você... Talvez você até tire proveito disso. Negociar alguma coisa. Promoção... grana viva  rsrs

            Enquanto esse imbecil pensa, andando pelo quarto, preciso tomar uma pra rebater. — Alguém tem uma bebida aí? Não? Um baseado? que tal outro café, heim sargento?
— Marlon, pegue dois... Você está nisso até o pescoço. Desembucha!
— O que o ‘senhor’ quer saber, capitão?
— Não brinca comigo! Não sou moleque, muito menos um de seus amigos zumbis. Eu sinto na alma que você tá escondendo algo, algo grande! Mas vou te dizer uma coisa! só uma vez! Sei que todo drogado se sente especial e melhor que todos os outros, isso junto com um sentimento de culpa também. Não sei por que, mas vocês se sentem ‘melhores’ que os ‘caretas’. Então, no seu íntimo, você me considera um idiota e todo mundo aqui umas bestas. Você só respeita quem ‘vai’ com você. O resto ou é 'imbecil', ou é ‘Sô Zé’ ou ‘Dona Maria’.
Mas vou te dizer uma coisa, o otário aqui no final do dia vai pra casa num importado, dorme com uma mulher vinte anos mais nova, viaja todo ano pro exterior, come do bom e do melhor, e todo santo dia vai aos melhores espetáculos, e ainda, pra quebrar a monotonia posso te meter a mão na boca e dar até uns tirinhos em ‘espertinhos’ como você só por diversão! Sabe por quê? Porque não vai dar nada pra mim! Então, seu molambo, seu lixo, fedorento! não me trate como um dos seus ‘parças’ porque agora você está na minha mão! Você é meu! Eu posso fazer o que eu quiser com você! até te jogar numa cova rasa! Desaparecer com sua carcaça, simples assim!... Então vou te perguntar de novo, e se você vier com essa mesma estorinha pra boi dormir, vai sofrer, vai sangrar, e vai berrar muito... Prestou atenção? Está pronto? Qual é a do governador?
— Bem... tem umas fotos.
— Que fotos?
— Ela me mostrou há umas duas semanas.
— Ela quem? a puta? Que fotos são essas?
— Bem... trepando.
— Com o governador?  kkkkk  Quem tirou as fotos? Você?
— Não! Eu não tirei foto nenhuma! Eu fiquei sabendo porque ela me mostrou. Quem tirou as fotos queria chantageá-lo ou alguém descobriu as fotos mais tarde e usou isso para tirar alguma vantagem. Não sei.
— E aí você vai querer me convencer de que o governador mandou alguém aqui extrair dela o nome do chantageador e a matou? É isso?
— Não sei... Mas acho melhor ficarmos a sós... porque esse assunto é muito melindroso.
— Eu confio nos meus homens. Vocês ficam aí, não precisam sair!
— Bem, o ‘senhor’ é quem sabe. Eu só sei de uma coisa: em algumas fotos é a mulher do governador.
— Quê?!! A mu... mu-mulher? do governador? Transando? com quem? as duas? na cama?!!
— Sim.
— Tem certeza? A mulher do cara e a puta?
— Pode conferir nas fotos. Estão aqui.
— As fotos? Aqui? na casa? onde?... Espera um pouco... é... senhores, poderiam nos deixar a sós por uns minutinhos?... fechem a porta.
— rsrsr
— Tudo é engraçado pra você, né?... Onde estão as fotos?
— Eu te mostro.
— Onde estão?
— Naquela sala.
— Espera um pouco aí... Atenção, todos vocês! deixem a casa, esperem lá fora! Parem o que estão fazendo, esperem lá fora. Deixem a casa, por favor, só por uns minutos... Obrigado... Agora você venha... Estamos a sós. As fotos?
— Atrás do espelho... cuidado! Não vá quebrar... sete anos de azar! Vai ter que retirar a moldura... por trás do forro. Por favor, pode aproveitar e tirar essas algemas? Não vou a lugar nenhum... ahh! assim é bem melhor. Muito obrigado!
— Deixa ver... meu Deus! Que isso?! Não pode ser real...
—  Onze fotos...
— Photoshop! Tudo é possível...
Meu Deus! A mulher do governador! Se cair na rede... puta que pariu!!
— Senta, capitão. O que vai fazer?
— Humm... humm
— Pensa rápido. Ficar esfregando a testa não vai adiantar nada. Eles já devem estar chegando...
— Você está curtindo a situação... se deleitando!
— Verdade! Eu gosto de ver vocês suarem! rsrsr
— Gosta, né?... Quem mais sabe dessas fotos?
— kkk  posso ter meus problemas com drogas, mas não sou otário, capitão.
— ‘Problemas com Drogas’? Adolescentes têm problemas com drogas, mas você? um cara na sua idade? Não! Você é o problema das Drogas!! ... Agora presta atenção. Tem cópias? onde? e quem mais sabe?
— Bem, vou dizer apenas que, no momento, estão sob sigilo absoluto e confiável.
— ‘No momento’? O que você quer dizer exatamente? Esta história está  começando a me cheirar mal, muito mal...
— Você tem um cadáver no quarto, sangue pra todo lado, um assassino à solta, políticos envolvidos, fotos da mulher do governador transando com outra mulher e só agora acha que tem alguma coisa errada?
— Que porra!! ... Quem escondeu essas fotos aqui? Você ou a puta?
— Capitão, posso entrar? O pessoal do secretário está aqui.
— Clayton, se você mencionar as fotos, será um zumbi a mais na geladeira do IML!!

— Bom dia, delegado!
— Bom dia?
— Sim, meia-noite já era! É madrugada já!
— humm  o que ‘vocês’ estão fazendo aqui?
— O secretário nos enviou para resolvermos algumas demandas... onde podemos... em particular?
— Em qualquer desses... Norberto? Algema esse cara e fica de olho nele! Norberto, presta atenção! Fecha a porta, fica de olho, não saia daqui! Esse nóia é metido a esperto!... Manda o pessoal entrar, concluir o serviço. Liga de novo e manda remover o corpo. Acabamos aqui.
— De novo, capitão? tem certeza que eu preciso dessas algemas?
— Senta aí! Cala a boca!

III
III
III
III

III 
III
SEGREDOS PODEROSOS
III

IIIIII

— Muito bem, senhores, que ‘demandas’?
— Achamos que o senhor pode ‘deparar-se’ com ‘documentos’ que o secretário gostaria de manter em ‘sigilo’.
— O Secretário? ou o Governador?... Por que estão um olhando para a cara do outro?
— Parece que o senhor já encontrou...
— Coisas de interesse do governador ou do secretário?
— Sim.
— Sim?... E por que ‘vocês’ estão aqui e não homens do governador?
— Bem... acho que podemos ser francos nessa altura dos acontecimentos, não é?
— humm  seria muito bom...
— O secretário, digamos, está em ‘missão oficial’ com tudo relacionado a este assunto.
— Ahh entendi... 'missão'? e vocês estão procurando...?
— Qualquer item que julgarem de interesse ‘oficial’.
— Fotos se encaixariam nessas condições?  rsrs
— Podemos vê-las?
Claro! Pega. De onde vieram certamente virão mais.
— Parece que foram tiradas com um celular... por alguém oculto na casa. O senhor tem o celular?
— Não, mas... fotos bem batidas, né? Bela cama, sofá! Bonitas cortinas, tapetes. De muita classe os móveis... É onde mora o governador?
— Não.
— A falecida?
— Não. 
— De quem então? Quem mora nessa mansão?
— ...
— É casa ou apê ?
— ...
— Entendo... Bem, senhores representantes do Secretário de Segurança do Estado! Acho que essa é uma boa hora para uma pequena pausa, um café e para falarmos sobre as pendências de minha delegacia!
— Perfeitamente, delegado! Somos sensíveis a esses problemas... promoções e ‘adequações’ de rendimentos... Claro que o sr. secretário estará propício e que até é programa de governo...
— Desde que o celular seja entregue e não existam mais ameaças. Com a sua garantia!
— Ah olha! é a primeira vez que seu colega abre a boca e ele é bem direto, não? Mas, eu faço as perguntas aqui! Será que vocês podem garantir que o governador resolverá meus problemas? Sei que essas coisas não podem ‘ser por escrito’. Talvez ele mesmo me dê a sua palavra pessoalmente. Coloca ele no telefone.
— Pessoalmente?... no palácio?
— Telefone não seguro.
— Não seria interessante lhe verem no palácio. Pelo menos enquanto esse caso estiver nas manchetes.
— Humm
— Marcaremos um encontro. Faremos contato...

III
III
III
III

IV

VELHO JOGO
NOVOS PLAYERS

III

IIIIII

— Que demora, capitão! O que esses caras da 'Secretaria de Segurança' estão focinhando aqui?
— O nóia saiu dessa sala?
— Não, senhor!
— Checaram se não tinham portas no fundo nem janelas?
— Sim, Senhor. Sem portas, sem janelas.
— Então, saiam todos. Deixem-me a sós com esse vagaba !
— Já sei... por acaso estão preocupados com um ‘vazamento’?
— Escuta, nóia, você acabou com sua vida e a dessa infeliz! e agora está querendo jogar um jogo mil vezes acima do seu naipe? Chantagear o governador? O secretário? Você acha que tem cacife pra encarar essa gente? heim?! O crack comeu seus neurônios? Só pode. Antes das drogas você poderia até dar alguma pressão. Ter um futuro, mas agora? Se você tinha algum cérebro, acabou!! Isso aqui óh, é só uma caixola estragada! – 'Eiii, para me dá tapa!' — Você é só mais um zumbi se sentindo o máximo com uma fritada, mas quando passa o ‘barato’ é a mesma bosta de sempre!!
— Oito oito, dois um, quatro sete ...
— O que é isso? Vai jogar na loteria?
— Áhii!!! acha que tapas na minha cabeça vão resolver isso?!!
— Ôh, maluco? me diga então, como eu devo resolver esse caso? Fala!
— Oito oito... dois um... quatro sete.
— O que é isso?
— Você não precisa saber!
— O quê?!! Ora, seu filho da puta!!
— Só repita esses números para o secretário e observe o que acontece!
— ?? 
— Canta um a um pra ele e veja o que acontece...
— Como assim? Em que está metido? Você está muito confiante pra quem está a ponto de ser preso por assassinato... ou desaparecer misteriosamente.
— Melhor seria dizer ‘incriminado’...
— Temos meios de fazer você abrir o bico!! Última chance! Fale ou te entrego pra Vilma e Barney!  rhe rhe rhe!! Fala, seu desgraçado!! –  Bumm  Bummm — Ok! você pediu... Clemenson! Norberto! entrem... pórra a lua desse puto pra mim!!
— Com todo prazer, chefia!
— Mas aqui? E os caras lá fora?
— Amordaça ele! Só bate no corpo pra não aparecer os roxos  rsrs

 

BUM BHUM BUM PRHA CABUMMM PRAHH KBLUM BUM BMHM PRAHAH ...

 

— Tá bom, tá bom! Não é pra quebrar as costelinhas da princesa! rah rah E aí? Vai cooperar? 
— 88... 21... 47
— Que porra é essa, chefe?
— Vocês dois são muito burros, viu!? Enfia a mão nesse cara!

           

BUMM BUUM BUMM PRHA CABUMM PRAHH BUMM KBLUM BUMM BMM...

 

— Vai contar tudo? Eles vão te matar!
— Essa sessão de burrice vai durar até quando? até cansarem de bater?
— Desgraçado!
— Espera, Norberto!
— Quem é o burro aqui? Sou eu? Olha seu estado!
— Deixa ele respirar um pouco... Vai irmão, fala agora! rsrs  Vai estar muito machucado pra falar depois...
— ... desembucha, filho da puta!
— Vocês estão num jogo e nem sabem que estão jogando. E sabe o que é pior, já estão perdendo!
— Como assim?
— Mas o capitão já desconfia, não é?... Ou deixou escapar a chance de levar ‘algum’?
Humm... vocês dois, lá fora. – Mas, capitão?... — Esperem lá fora! Depois eu explico.
— Sábia decisão, meu velho! Tchauzinho, Barney! Tchauzinho, Vilma!
Viado desgraçado!!
— Vão, vão. Depois a gente acerta isso... Agora abre o bico!
— Oitenta e oito, vinte e um, quarenta e sete. Liga para o secretário.
— Não sou ‘seu’ menino de recados e não vou fazer seu jogo!
— Você já está jogando e perdendo!
— Que jogo?... Quem mais está nessa?
— O governador... o secretário, você, eu e um cadáver!  rsrs
— Escuta, rapaz! Não brinque comigo! Você acha que aguenta pancada? Ou não está sentindo as pancadas porque ainda está sob efeito de alguma porcaria? Nós vamos te arrebentar!!
— Eu não estou brincado, você está?

Esses caras batem firme. Raciocinar está difícil. Mas já passei do ponto em que voltar era opção. Ok, o velho no telefone, agora é só uma questão de tempo.

 — Porra! não removeram o corpo ainda?
— Parece, senhor, que estão recolhendo outros presuntos pela cidade.
— Deus me livre dessa gente incompetente... os políticos têm tudo, aluguel de graça, ajuda-paletó, barbeiro, carros, motorista particular, jatinhos da FAB, e o defunto não tem nem uma carroça pra vir buscar! Ôh paisinho sem vergonha, viu?!
— Sobra nada, chefia! Eles roubam tudo  kkk  Seu celular..., capitão.
— Pronto. Sim. Quê?!... Certo... Esperaremos aqui.
— Saiam todos. Quero ficar a sós com ele!
— Ué? de novo? Pensei que você já tinha resolvido tudo!
— Faltam alguns detalhes... Deixem-me a sós com ele. E já avisei mais de uma vez... para vocês eu sou ‘Senhor’.
— Sim, ‘senhor’, tudo bem.


III
III
III

V
III
O CORPO AO LADO

 

— E aí, capitão? Novidades?
— Você gosta de apanhar, né? Antigamente era a mulher de malandro que gostava de apanhar. Mas o malandro entrou pra política, enriqueceu, tem dez, quinze mulheres, e não tem mais tempo pra ficar corrigindo elas, é mais fácil ir trocando  kkkk Deu problema, troca. Não bate nem maltrata, troca  kkk  Mas você, igual às vadias dos vagabundos, fica mais à vontade apanhando... Quanta porrada vai aguentar, heim? Quer ‘novidades’? Parece que seu jogo depende muito dessas ‘novidades’, não é?... O secretário está vindo aí... Por quê? O que tem aqueles números pra fazer ele sair de casa e correr pra cá em vez de mandar de volta seus jagunços? e a estas horas?! ... Você está aprontando alguma coisa grande, né? Pois vou te dar um último alerta. Se sobrar sujeira pra mim... mesmo que seja uma gotinha assim, te mato e consumo a carcaça. E se piar grana na parada, eu quero minha parte? Ficou claro?
— Como cristal!
— Chefe, com licença... o secretário taí. Veio dirigindo e sozinho. Sem seguranças, sem ninguém!
— Interessante isso... sem assessores, sem guarda-costas... Traga-o pra cá.
— Sim, capitão.
— Boa noite, senhor secretário.
— Boa noite, delegado. Onde está o homem?
— Me acompanha... Podemos cortar ele no couro a noite toda se o senhor quiser.
— Ah! ah! ah! Seria ótimo! mas infelizmente os tempos são outros. O quê! tá algemado? Vocês bateram nele mesmo?!... Há quanto tempo o corpo está aí? Quero falar a sós com ele...
— Ahh, tem no mínimo umas quinze horas... e umas seis que pedimos o rabecão.
— Os legistas estão sem viatura no momento, mas garantiram que a próxima parada é aqui.
— Manda Recolher Agora! fala que Eu Dei a Ordem!   
— Noite agitada...
— Não. É falta de estrutura mesmo, meu chapa! Não têm nada, veículos, motoristas, peritos...
— Quero falar a sós com ele. É possível? E por favor, nada de 'meu chapa' comigo, ok?
— Como quiser, 'senhor' secretário!
— Espera, capitão. Quero você na conversa.
— O quê?! Acha que manda aqui, zumbi?!
— Secretário, se espera minha ‘boa vontade’, quero que o delegado presencie nossa conversa.
— ‘Presencie’? Você ‘quer’? Que diabos está acontecendo aqui?
— Delegado, fique e, por favor, feche a porta e a boca. Vocês espancaram esse homem... Ridículo! Querem piorar as coisas para nós?
— Só amaciamos...
— Deixe de palhaçada, Delegado! Não dê a esse sujeito tudo o que ele precisa para causar ‘embaraços’ judiciais e midiáticos para nossa administração. Entendeu? E por favor, menos intimidade comigo, fui claro agora? 
— Humm
— Posso interromper um minuto?
— O que foi, Clemenson?
— Capitão, o papa-quatro chegou, mas não é o pessoal de costume.
— Como assim?
— Não é do IML daqui. Vieram de Santos trazendo um presunto importante, e no IML pediram para que passassem aqui e quebrassem essa.
— Clemenson, ‘pelamor’ de Deus!! Tem 10 anos que estamos pedindo pra pegarem o corpo e quando finalmente mandam alguém, você quer exigir que seja cicrano ou beltrano? Caraaalhooo!!! Deixa eles resolveram essa merda e vamos ficar livres disso!!
— Não... eu só queria informar... Com licença... Ah! a vadia não tinha parentes nem localizamos nenhum 'conhecido'. Alguém precisa reconhecer o corpo no IML
— Não, não. Não precisa. Traz a papelada, o nóia assina aqui mesmo e agora! Pronto, libera tudo, fecha a porta e tchau!!
— Muito bem, sr. Clayton, o que você quer?
— As vinte e uma letras e símbolos...  rsrs
— O quê? Nem um pouquinho ambicioso você é, heim?
— Por que não? Não está lá só esperando alguém pegar?
— Tudo?
— Ela quem? Do que vocês estão falando?
— A senha, por favor. Preciso dos 21 caracteres.
— São 21 mesmo? Tem certeza? Como sabe? ... ou melhor, em troca de quê?
— O chip do celular com todas as fotos e vídeos, meu sumiço, ninguém fala mais nisso e...
— Quê? do que vocês estão falando? Não estão esquecendo de nada?
— Se refere à pobre moça, delegado?
— Sim! essa ‘pobre’ moça!! Um cadáver bem aqui! Vocês se esqueceram desse ‘pequeno’ detalhe?
— Bem, delegado, a conclusão oficial é o óbvio, ‘Suicídio’!
— Hã?... Suicídio? Como alguém suicida com tantos tiros e facadas?! me explica?
— Deixe isso por minha conta. Eu resolvo com os legistas... A Interpol e a Agência de Saúde da ONU dizem que a cada 30 segundos uma pessoa suicida-se no mundo. Hoje em dia o suicídio é perfeitamente natural. No século passado, as pessoas se suicidavam a cada 40 segundos... a Humanidade está evoluindo!  rsrs
— Humm  Essa também é a sua versão, nóia?  
— Bem, tem outra ‘coisa’ que eu ia dizer...
— Que coisa, gente?! Tem mais ‘coisa’ escondida aqui que pau de traveco !! Eu não gosto disso!
— Calma, capitão. É só você fingir de égua como sempre. Não viu nada, não sabe de nada... E, se conseguir ficar calado nos próximos dez minutos, pode sair daqui promovido e com dindim no bolso.
— Cara, não fala assim comigo... eu te arrebento!!
— Basta! Os dois! Vamos resolver isso de forma discreta! Sem gritaria, sem pancadaria! Sem provocações! A mídia não pode nem cheirar o que está acontecendo aqui!
— E o que está acontecendo aqui? heim? Qual de vocês vai me explicar exatamente O-QUE-ESTÁ-ACONTECENDO-AQUI!!
— Sem gritaria, delegado, por favor! Senta aí, toma um café, areja a cabeça. Acalma-se!
— Eu já tinha tudo resolvido. Esse cara é um ex-agente da PF expulso por conduta imprópria, amante da vítima, que era prostituta. Ele a matou... onde está a página... aqui... ele a matou num ‘surto psicótico por uso intensivo de substâncias alucinógenas ilegais’. Ele já estava pronto para assinar a confissão!
— Delegado, você e seus métodos da Idade Média espanhola nem arranharam a superfície... e ele não assinaria essa confissão nem morto  rsrs  É queixo duro. Acha que pode com qualquer parada.
— ??
— E pra sua informação, ele não foi expulso nem suspenso... estava só enrolando vocês... ganhando tempo até eu decidir se viria aqui ou não! Apanharia a noite toda se fosse preciso só para manter vocês aqui e assegurar o espetáculo para a mídia aí fora. Conheço esse tipo. Durão, gosta da dor. Quando farejam dinheiro grosso não largam nem pra morrer! E a moça não era prostituta.
Peraí ! Dinheiro grosso? Como assim? Quanto? Quanto?
— Esse ‘nóia’, como você o chama, se demitiu há seis meses. Nenhum de seus colegas policiais soube dizer o porquê. Alegou ‘problemas pessoais’, nada mais. Demitiu-se logo após as investigações sobre um simples furto na casa de um político conhecido nosso, esbarrarem numa conta milionária em Porto Príncipe. Milhões de dólares numa conta numerada, sem nome, ao portador. Qualquer um num computador em qualquer lugar do mundo, com os números certos, pode ser o dono dessa fortuna. Pode transferi-la legalmente para qualquer banco de qualquer país... e passar a declará-la no imposto de renda como fonte de investimentos. Os próprios bancos, por ‘módicos’ vinte e cinco por cento de toda a grana envolvida fornecem toda a papelada legal, podendo o favorecido torrar o dinheiro tranquilo.
— Olha só! O nóia, afinal de contas, não é tão dançado assim... E temos ainda o velho clichê: se não te derem uma bolada, você joga na mídia os podres da primeira-dama do estado e tira a chance do governador de chegar à Presidência da República, etc, etc... Mas de quanto exatamente estamos falando?
— Infelizmente, e por incrível que pareça, isso não é tudo.
— ?
— A moça não era meretriz, era assistente da primeira-dama.
— ‘Assistente’?
— Sim, uma espécie de secretária com salários mais altos.
— E não é mesmo só isso, não é, secretário? Tem ainda o nome do assassino e quem estava por trás da câmera? Aquele que gosta de tirar fotos e fazer vídeos. Certo, capitão?
— Humm... Quem?
— Não precisamos de nomes! Sr. Clayton, eu preciso de garantias... Se as coisas saírem de controle, eu quero um bode expiatório. E aposto que você já pensou nisso também...
— Digamos que eu tenha tudo sob controle  rsrs
— Controle de quê? Que bode? De quanta GRANA ESTAMOS FALANDO?!
— Com esse problema, eu tenho certeza que o capitão poderá ajudar.
— Eu? ... ajudar em quê?
— Um bode...
— Bem... isso vai depender de muita coisa... Candidatos a bodes e curiós as bocas estão cheias. Mas antes, eu quero saber exatamente tudo que está rolando aqui. Até agora só papo furado. Por exemplo, quanto tá rolando nessa parada? O governador é o dono do dinheiro, certo? Ele concorda com esse arranjo? E o Clayton? E outra, porque essa conta ainda existe? Se o governador é o dono da conta, por que não a esvaziou logo que começou a chantagem?
— No furto em sua casa, as anotações da conta foram juntas com toda papelada do cofre. Número da conta, códigos de acesso via rede e um chip de celular... Como a maioria das pessoas, o governador não decora esses números. Ele os anota e guarda num cofre em seu escritório, que há um ano, mais ou menos, foi invadido por esse alguém que já conhecia a sua combinação. Mas, para nosso ‘esperto’ assaltante pôr a mão no dinheiro faltava mais um elemento crucial, a senha!
Tanto trabalho e a única coisa que o governador não anota é a senha de suas contas. Ele as decora! Guarda todas na cabeça!
Ou seja, para acessar a conta você precisa do nome do banco,
do código do país em que ela está, do número da agência, do número da conta, código de segurança, e por fim da senha. Tudo isso foi roubado, menos a senha. Então, o governador tem a senha e o ladrão tem os outros números!  kkkk  E lembre-se, é uma conta numerada. Sem nome, sem endereço, sem qualquer identificação que não esses números!
Bom... é nesse ponto que eu passo a especular como foi que chegamos até aqui, hoje, neste exato momento... e eu vejo da seguinte forma: o sr. Clayton aqui, na época agente da Polícia Federal, investigava propinas de grandes empresas a políticos. Deteve o assistente, braço direito do governador, para interrogatório.
Todo mundo sabe que os políticos movimentam parte do dinheiro do Caixa 2 em espécie e que esse dinheiro fica guardado na casa de alguém ou algum lugar assim. Não pode ir para as contas em bancos. Acho que Clayton capturou esse cara para obrigá-lo a revelar onde guardavam esse dinheiro.
Um interrogatório conduzido de forma totalmente fora dos protocolos, só por ele, sem mais ninguém presente, sem gravação, sem registros e num local desconhecido ao invés de uma sala nas dependências da PF.
Sabe-se lá como e que métodos usou, fez o assessor falar. O cara tinha tudo para alegar ‘abuso de autoridade’ e meter tantos processos nas costas do agente que, quem no final iria pedir arrego seria a PF. Mas, ainda não sabemos o porquê, e até então inexplicavelmente, digo isso porque investigavam subornos e corrupção no governo do estado e não acharam nada oficialmente, o besta mesmo sabendo disso acabou revelando que ‘mexeu’ no cofre do governador e que encontrou documentos comprometedores, mas em troca queria sua total liberação.
Então, nosso ‘super agente’, de posse desses documentos passou a imaginar como colocaria a mão na grana, e descobriu no meio dos papéis o chip que nem mesmo o ladrão havia mencionado... Em seguida, se demitiu da PF, deu um tempo para a poeira abaixar enquanto se aproximava da assistente da mulher do governador. Mais tarde a convenceria a descobrir a senha. Mas aí a moça ‘suicidou-se’, deprimida com a relação homossexual que vivia com a primeira-dama... Psicólogos, internações para desintoxicação e grupos de autoajuda, nada adiantaram. Se matou mesmo!... Em seguida, para salvar seu plano, nosso ex-agente sem opção e sob pressão das drogas, me força a vir à presença dele para tentar um desfecho nas negociações porque nós endurecemos o jogo pra ele.

— As ‘coisas’ começam a se encaixar... mas falta uma explicação. Uma não, várias. Por exemplo, já que você sabia que era chantagem, por que não negociou antes de chegar a esse ponto? Não tinha outro lugar? Quero dizer, por que aqui? na cena do crime com essa gente toda lá fora?
— Por que não? Não é incomum o Secretário de Segurança aparecer numa cena de crime com apelo popular como esse. Mas pergunte a ele as razões dele me atrair aqui. Você vai ouvir: ‘é exatamente por isso’. Muita gente, mídia, curiosos. Exposição máxima! Aposto que ele tem alguém lá fora pronto pra compartilhar nas redes as imagens da primeira-dama e sua assistente, se algo lhe acontecer, correto? Não pode ligar nem contatar com seus comparsas, mas me vendo chegar aqui é a dica para ‘eles’ ou ‘ele’ lá fora saberem que o plano ainda está nos trilhos. Certo, Clayton? E também não podemos fazer nada contra ele, não é?
— Perfeito, sr. secretário. Como político, você é exatamente um ‘político’...  rsrsr
— Não é hora de ‘elogios’... Mas você, 'senhor' Clayton... você está si expondo aos cães e aos abutres. Não percebeu?
— Achei que vocês diriam isso. Em seis minutos vai ser publicada uma foto com imagens escurecidas para tornar impossível a identificação das duas mulheres se beijando. Isso será apenas um aperitivo para vocês poderem ‘acreditar’. Mas se dentro de mais 10 minutos eu não ligar, aí sim... essas imagens começarão a viralizar na rede em alta definição! São centenas de fotos e dezenas de vídeos. Manterei por meses o interesse da mídia nessas fotos. E as cenas mais picantes, vou deixando para o final.
— Filho da Puta!  kkk  Então você não está nisso sozinho? E acho que é muito esforço para só atrair o secretário aqui. Essas fotos, esses lances, você poderia escolher outro lugar cheio de gente fácil, fácil. Mas por que aqui? O que mais você tem na manga, Clayton? E quem mais está por trás disso?   
— Como disse o secretário, ‘não precisamos de nomes’. Embora vocês jamais saberão ao certo se tenho ou não mais alguém  rsrs  Uma ligação para um certo número, o computador atende, digito um código e ele me dá mais um tempo. Se não ligar ao fim desse tempo, que vocês também não saberão quando, o próprio computador começará a jogar as imagens na rede.
— Muito interessante... mirabolante até! E... você acredita mesmo que o meu partido vai se curvar? Você faz ideia do que tem nessa conta?
III

III

III

VI
III
A FORTUNA

 

— 250 milhões de dólares! Mais ou menos...
— O quê?!!
— E quer tudo pra você?
— É??
— Gostou né, capitão? Acho que o secretário está sugerindo que eu deixe uma porcentagem pra vocês.
— É!!
— Sinto, meu velho, mas não é tão simples assim. Primeiro a senha. E passo por celular ao banco. A transferência é feita rapidim. Eu confirmo isso daqui, e então, e só então, poderemos conversar sobre outras ‘questões’... Vai me dar os 21 agora?
— Bem... ainda não tenho certeza...
— Acho que qualquer partido abriria mão desse dinheiro se soubesse que estão em jogo alguns ministérios, secretarias e provavelmente a Presidência.
— E você teria coragem de acabar com a própria vida?
— Secretário, que pergunta besta é essa? Esse cara não tem vida! Não tem porra de vida nenhuma! É um ‘Noiado’!! Um viciado! Entendeu? Ele não tem vida!! É um zumbi!! Um morto vivo! Seu nome já está sujo! na sarjeta! Isso aí é caixa de pancada de vagabundo. Faz qualquer coisa pra fritar um ou dar uma cheirada. Esses caras dão até o rabo pra conseguir droga!! Ele-Não-Tem-Vida!! Sacou?! Por isso, jogar o nome dele, ou o seu, ou o meu na merda pra ele é nada!! Não significa nada!!
— Por favor, delegado. Fale baixo. Isso tudo é fachada! Ele vem sonhando com essa grana desde que soube da conta. Quando se demitiu da polícia, poucos dias depois que soube da conta, já estava com tudo planejado. Não conheço o plano ou pelo menos todo ele, mas por certo a morte dessa pobre coitada não estava no script. Ele agora está improvisando. Digamos que isso aqui é seu Plano B, certo?
— Quem se droga assim sem ser viciado? só pra aplicar um golpe?... Bom, pensando bem, são 250 milhões de dólares!! ... Tem outra coisa que não está batendo! Por que vocês simplesmente não esvaziam essa conta? e deixa esse desgraçado se fuder !!
— É! Por que não? Por que vocês não esvaziam a conta?
— Cala a boca, nóia! Me explica, sr. secretário!
— Já lhe expliquei isso...
— Explica de novo, porque pra mim é tudo muito simples: eu moía esse pilantra no pau até ele entregar tudo e depois o enterrava numa beira de barranco dessas por aí!
— Com essa capacidade mental, você me impressiona! Bem,
é um golpe de 250 milhões sem ninguém poder ir à polícia. Com esse dinheiro você pode se dar ao luxo de viciar em tudo e ter milhões para se tratar depois  rsrs  
— Hummm 
— Mas você não se droga de verdade, não é Clayton? Só uma vez ou outra, e de leve, quando estava perto de usuários. O resto do tempo é pura interpretação. Fingimento!
— Mas por quê? Por que você precisava fingir que é dependente? Por que precisa andar sujo pelas ruas, fedido, molambento, fingindo ser viciado sem ser? Passando fome? frio, na chuva, no tempo? O que é isso? Masoquismo? Ou você dançou mesmo? Mas não fuja do assunto. Por que vocês não tiram todo o dinheiro da conta? E como sabe de todo o esquema dele?
— Delegado, você insiste nisso! Nós não temos mais todos os números dessa conta! Só temos a senha!! E você chegou agora, delegado, venho negociando com esse rapazinho já há algum tempo. Ele... passando-se por viciado, conseguiu aproximar-se da amante da primeira-dama do estado. Isso foi ela, a primeira-dama, quem me contou. Primeiro internou-se na mesma clínica. Fez amizade com sua assistente, deixou que ela o ‘convencesse’ a tratar-se com os mesmos profissionais e tal. Mais tarde, tornou-se seu fornecedor e amante. Após ganhar sua confiança esperava que a pobre moça e a namorada obtivessem a senha da conta ludibriando o governador de alguma forma... mas aí veio o suicídio, e deu tudo errado.
— Então secretário, vocês roubam o povo, saqueiam o país, e o 'pilantra' sou eu?
— Qual a diferença entre nós? Você não está roubando também?
— A diferença é que eu estou roubando um dinheiro roubado. Estou roubando de ladrões de gravada e colarinho branco, não de pobres e miseráveis que são, na verdade, os que precisam desse dinheiro que vocês vivem pilhando. A pergunta é: você não sente nada ao roubar de miseráveis? Mas, não precisa responder porque isso não é problema meu... Bem, estamos perdendo o foco aqui. A senha, o chip, meu silêncio! Simples assim. 
— Acha que é fácil? num estalar de dedos? Acha que o governador vai entregar a senha sem mais nem menos? Vamos ver essas imagens aparecer mesmo. Aí conversaremos... você disse seis minutos?
— Segundos... em segundos vocês poderão conferir o celular do capitão e alguns de seus homens.  Ahh  ia me esquecendo, vai aparecer também no celular do governador, da mulher dele e de outros assessores. E, é lógico, algumas pessoas saberão do que se trata.
— Vamos correr o risco...
— Vamos? e quanto às minhas demandas?
— Fica frio, Delegado. Você será recompensado assim que toda essa merda se acertar. E possivelmente isso aqui vai lhe dar ‘serviços’ extras.
— Suas ameaças não me assustam, secretário... mas responda ao capitão. Diga por que não podem mexer na conta de Porto Príncipe?
— Meu Deus! de novo! Vamos lá: não temos mais o número da conta desde o roubo do cofre. O banco não fornece, mesmo se quisesse, porque não sabe. O número é gerado pelo sistema e depois criptografado. Assim, só quem abriu a conta tem todos os números. Se perder os números da conta ou da senha, acabou! O dinheiro ficará lá quieto por 50 anos. Depois disso, uma parte passa ao banco e a outra vai para o governo local.
— Filho da Puta!! Então você tem o número da conta e eles têm a senha?  kkk  É a mesma coisa que uma pistola apontando para cada cabeça  kkk  Isso tá parecendo um ‘Impasse Mexicano’!  kkk
— Uma conta numerada, sem nomes, nem assinaturas, sem fotos e sem rastros. Ao portador. É... delegado, um milionário ‘Standoff Mexicano’! Ao estilo de Sergio Leone e Quentin Tarantino!   Ah Ah Ah Ah!

— Muito bem, senhores... mais uma vez, voltando ao planeta Terra... seus celulares não receberam nada?
— Mas que porra é essa?!! Você disse Uma imagem! Uma imagem!
— ooopsss! Desculpe. Mas verão que estão ininteligíveis... pelo menos para quem está por fora do que se trata.
— Isso prova que o 'gênio' aqui não está mentindo. Ele tem gente lá fora e ou um computador... não importa. A questão é, e agora? Como é que fica?
— O partido não vai aceitar essa merda. Eu sou um soldado do partido, vou assumir na Justiça toda a responsabilidade. Você acaba com minhas aspirações políticas no momento, mas voltarei em alguns anos quando a poeira abaixar... E enquanto isso, ocuparei cargos menos chamativos, mas igualmente ‘vantajosos’ rsrs  Quanto a você, vai pra cadeia com a acusação de assassinato, sequestro e chantagem. E se precisar arrumaremos mais algumas acusações... Agora, considere isso, você poderá se livrar de tudo e ainda sair daqui com 10 milhões de dólares. Isso mesmo. Dou-lhe 10 milhões de dólares! Esse dinheiro é meu, não é do partido. Você aceitando ou não, esse acordo morre aqui. Nunca aconteceu.
— Não sei ...
— Vocês querem pagar a ele 10 milhões de dólares? só pra ficar de bico fechado?
— Sim, delegado. E, de sua parte, atenderemos todas as suas reivindicações oficiais e pessoais, entendeu?
— Bem, Clayton, me parece um excelente acordo...
— Capitão, o ‘senhor’ olhou as fotos, mas não viu direito...
— Como assim? O que tem de mais nas fotos?
— O sr. secretário olhou bem, não?
— Ei, nessa aqui tem três pessoas na cama! Um homem!! Essa foto foi tirada na frente de um espelho!! Quem é esse? O governador, tenho certeza que não é!!  kkkk
— Diga a ele, secretário. Esclareça de uma vez por todas por que sua vinda aqui era tão importante!
— Sou eu na foto.
— Puta-Que-Pariu!! Você?!! tá comendo a mulher do governador e a secretária? ‘Ménage a trois’?!  kkkkkkk  Que que é isso ‘Senhor Secretário’?!! Agora não precisa explicar mais nada!
— Não se empolgue tanto, capitão, porque tem mais... não posso aceitar essa oferta de 10 milhões, que parece até justa; e, por favor, não me interprete mal, não sou tão ganancioso assim. Eu até poderia concordar com o ‘senhor’, capitão, porém tem uns detalhes. Primeiro, o sr. secretário sabe muito pouco sobre esse ‘caso’. Está certo sobre quase tudo que disse a meu respeito, a respeito da assistente e sobre a primeira-dama, e também sobre o governador, mas não sabe o que tem no resto daquele chip. Sabe, secretário?
— O que você quer dizer?
— O celular era da primeira-dama, não da sua assistente. E ela tem mania de fotografar às escondidas o próprio marido...
— Ora, não vem com essa de que o governador foi fotografado numa festa rodeados de belos rapazes, smokings e socialites...  ahh ah  É uma bichona e todo mundo sabe! E quem não sabe, desconfia!
— O fato de o governador ser gay é irrelevante. Ele sempre foi um homem discreto. E o grande público nem cogita isso.
— Tem outras fotos aqui na casa.
— Como assim? O que essas fotos têm agora? Onde estão?
— Na sala, na parede, num envelope escondido no forro atrás agora do ‘A Boba’ de Anita Malfatti. Conhece?
— Não vai estragar esse quadro! Ele é histórico! Vale uma grana!
— Não seja idiota delegado, é uma réplica!

 III
III
III
III

VII

O SISTEMA
III
III

— Hummm  Meu Deus!! Como esse ‘viado’ se deixou fotografar assim?! E eu pensando que nada poderia piorar essa merda! Olha o imbecil cheirando e com garotões!! Tudo viado!!
— Quem mais viu isso? Quem sabe dessas fotos?
— Perguntas erradas, secretário.
— Bem... precisamos de garantias fortes de que isso morre aqui.
— De minha parte... quero apenas a senha.
— Peraí!! Agora que me ocorreu! O que esse chip estava fazendo no cofre do governador? e que papo é esse de 'Nós não temos os números'. Você, secretário, é o pivô de tudo!
— Como assim?
— O senhor mesmo disse, secretário! Os documentos e o chip foram roubados do cofre do governador. E depois disse 'Nós' não temos mais os números. Ou, quando eu insisti na mesma pergunta, achou que eu era tão burro para não entender que vocês não tinham mais acesso à conta? Então eu te pergunto de novo, já sabendo que eu sei que você pode ser o cabeça dessa 'missão': se o chip era do celular da esposa, tinha que estar guardado nas coisas dela. Como o chip foi parar no cofre do governador?
— Não sei.
— Saber, o secretário sabe. Mas não vai dizer.
— Então, abre o bico você, Clayton!
— Temos outro Impasse Mexicano aqui  rsrs  O governador vinha sendo chantageado pela assistente/amante da esposa a mando da própria esposa. Ela queria o divórcio e os 250 milhões de dólares. O governador conseguiu de alguma forma o chip e mandou seu ‘amigo’ secretário cuidar do caso. Ele ‘cuidou’ de forma estúpida. Matou a pobre moça. A primeira-dama, se sentindo ameaçada, se calou. Tudo acabaria bem se essas fotos não estivessem por aí e a ‘pobre assistente/amante’ não tivesse me contado tudo, dias antes de morrer.
— Meu Deus!...
— É isso, capitão, agora sabe de tudo. Bom... eu preciso da senha em exatos dois minutos e trinta e quatro segundos... ou desta vez as imagens revelarão rostos e nomes!
— Mas por que essa ganância toda? Por que você precisa de 250 milhões? Você tinha uma carreira promissora na PF. Em pouco tempo estaria rico. Você não precisava se colocar nessa situação. Agora todo mundo quer te ver morto! É só o que conseguiu!
— Sem essa, capitão! Todo mundo rouba neste país. Só tem ladrão de cabo a rabo. E a maioria rouba migalhas, como você. O que vocês roubam é um grão de areia perto do que os políticos e seus lacaios roubam. Acha que vou acabar como você? Trinta anos de serviço e qualquer palhaço engravatado como esse burocrata aqui chega, te manda calar a boca e você enfia o rabo entre as pernas. Se eu vou ser ladrão como você, pelo menos não serei ladrão pé de chinelo. Vou roubar igual ao secretário. Vou roubar igual aos juízes, políticos, empreiteiras! Coisa grande, entendeu?
— Humm
— Não fui eu... nem meus homens que matamos aquela mulher! Apenas conversei com ela sobre isso. Ofereci dinheiro e tudo mais. Ela ficou de pensar, e hoje me apareceu morta. Para mim, na atual conjuntura, o nome do assassino não tem nenhuma relevância. Quem matou, quem deixou de matar, não me interessa! Não quero saber se foi o Clayton ou se foi um profissional. A meu ver, foi suicídio e é melhor mesmo que seja. É melhor para todo mundo! Dito isso, vamos agora resolver a questão aqui. Tenho uma oferta final... vinte milhões, reintegração à PF, diploma e carteira da OAB, uma indicação imediata para desembargador com direitos vitalícios... e, em três anos, para a primeira vaga que abrir no Supremo Tribunal Federal. São os mais altos salários do funcionalismo, fora as regalias, 'doações', 120 dias de férias por ano, empregos a familiares e outros ‘mimos’ que as empresas rés e futuras rés em inúmeros processos oferecem aos magistrados! Aceita! Eu não tenho como melhorar isso.
— Dois minutos!
— Caralho!! Deixa de ser burro! esses caras podem te dar a senha, mas vão te perseguir pro resto da vida!! Aceita!!
— Vou arriscar. Um minuto, 50 segundos...
— Mesmo que você tenha tudo planejado, passaporte falso, contas numeradas em paraísos, nomes trocados, disfarces, outra nacionalidade, cirurgia plástica... nada, nada vai te esconder para sempre da PF, Interpol, FBI, MI6, CIA, e o cambau! Fora todo tipo de caçador de recompensa que vão mandar atrás de você e de quem estiver com você! ... Escuta... Clayton, você já não é um cara tão jovem assim. Quanto? 30? 36? Aceita os vinte milhões e mais os cargos no serviço federal. Vai estar bem pro resto da vida. Esses caras tiram quatro meses de férias por ano!! ... Agora me escuta com atenção, no momento em que você puser a mão nessa grana, vai tá ferrado pro resto da vida!! Você tá morto!!
— Um minuto, vinte segundos...
— Porra! que bicho Teimoso e Burro!
— Pense nas suas opções, secretário, e do governador: escândalo sexual, assassinato, risco de prisão, fim da carreira política, afastamento do partido...
— Puta que pariu! Isso pode arrasar a vida de qualquer um!
— Ok. Mas eu quero garantias!
— Bela atitude, secretário...
— Cala a boca, delegado!
— Hummm
— Por favor, capitão, pega o celular por baixo da segunda gaveta... está preso no tampo.
— Cara, estou espantado com você. Parece que preparou tudo muito bem, né? Sabia que eu iria te trazer para o local do crime ao descobrirmos suas digitais. Você as plantou aí, as fotos, o celular! Que mais você ‘preparou’ para nós?
— Não seja paranoico, meu velho!.. Secretário?...
— @&¬1692zYK036 956§¢W£  aí estão todos os ‘seus’ 20 caracteres e espaço em branco.
— Um instante... o sistema leva mais ou menos um minuto para confirmar a transferência...
— O que você vai fazer com tanto dinheiro? Queimar nas drogas não vai ser, porque tudo não passou de teatrinho, né? e ninguém consegue cheirar 250 milhões de dólares! Morre bem antes! Como acha que vai escapar disso? Um dia vai levar um tiro na nuca e nem vai ver que morreu  rsrs  Da mesma forma vão matar todo mundo que estiver ao seu redor! Acha isso divertido? Todos à sua volta estarão condenados à morte. Seus amigos, suas mulheres, sua mãe, seu cachorro. Todo mundo!
— Não vai ser assim, vai, secretário? Explica pra esse burro por que não será assim.
— Olha como fala, seu desgraçado!
— Capitão, você não se achou ainda nesse jogo? Você é meu peão!  rsrsrs  Está aqui pra servir de escudo humano. Você é meu plano B  rsrs
— Eu?! Como assim?
— Delegado, fique quietinho no seu canto... você é tapado demais pra acompanhar o que está se passando aqui. Esse cara lhe colocou no esquema para você e seus homens se tornarem testemunhas... e bodes.
— Pronto! Transferência confirmada. Tudo ok. Cumprimentem o mais novo milionário na praça!!  kkk
— Ora, vai se fuder!! Não está se esquecendo de nada, palhaço?! O chip do secretário, mané!
— kkkkk você é uma vergonha para a corporação, capitão!  rsrs
— Ele não precisa entregar o chip porque tem muitas cópias por aí. Esse dinheiro é só pra não jogar merda no ventilador. Compramos o silêncio dele por 250 milhões de dólares! Mas também, ele sabe... se vazar qualquer coisinha, não vamos mais precisar nos preocupar. Então, ele vai morrer e todos ligados a ele vão morrer! Cada um por quem ele nutre o menor sentimento vai morrer. Mataremos ele e tudo que ele ama! Vamos queimar suas casas e até suas sepulturas! Vamos varrer tudo ligado a você da face da Terra!

Que medo desse homem! rhe rhe rhe  Deu até calafrio com esse cara falando desse jeito. Me olhando assim no fundo dos olhos... uuuhh dá medo mesmo  rsrs  Mas agora, sem dó nem piedade, o Grand Finale!

 — Bem, já posso ir?
— Por mim... mas jamais esqueça o que o que foi acertado aqui!
— Não! Você ainda precisa assinar mais uns documentos do IML e me explicar algumas coisinhas.
— Não tenho mais nada a lhe dizer. Explica pra ele, secretário.
— Não complique as coisas agora. Deixe-o ir! Quanto a mim, fui!
— Ok... você  só precisa assinar uns papéis pra mim... não saia desta sala. Voltarei num minuto.
— Certo amigão, não tenho mesmo para onde ir. Mas não demore, tenho 250 milhões pra gastar  kkkk
— Vai se fuder, desgraçado!! Norberto, vigie a porta! Ninguém entra, ninguém sai! Entendeu?
— Deixa comigo!

Me trancou aqui de novo? e ainda põe a ‘Vilma’ guardando a porta. É um perfeito otário.

 — Secretário, secretário! Vai liberá-lo? Vai sair ileso daqui com 250 milhões?!
— Solte meu braço! Não quer gritar mais alto? Porque não convoca uma coletiva de uma vez? 
— Eu estou pouco me lixando!! É muita grana pra aquele filho da puta! Eu quero uma parte!! e vou ter!! Nem que eu tenha que arrebentar ele todo!! 
— Escuta de uma vez por todas! Não percebeu, idióta!! Ele sabe que nós não podemos fazer uma loucura dessas. Aonde você vai? Volta aqui! Me companha até o carro! 
— Não! Ele não vai sair daqui com aquela grana toda!
— Capitão!
— Agora não, Clemenson.
— Vou embora o mais rápido possível e lhe aconselho a fazer o mesmo! Tragam meu carro!! Delegado, sabe em que você deve ajudar agora? além de manter a boca fechada? Destruir todas as provas, documentos, laudos, fotos, arquivos no IML, tudo! E não deixar nunca a imprensa chegar perto disso. Entendeu?
— Por mim... Eu só quero uma parte daquilo!!
— Se você insistir nisso, e não colaborar, vai nos comprometer e não podemos deixar isso acontecer... Entendeu?
— Está me ameaçando, secretário?...
— O carro, senhor, está na porta.
— Delegado, é claro que eu estou te ameaçando! Não vamos deixar você estragar esse caso que nos custou tanto e que pode acabar com nossa vida e até com o partido! Deixe esse homem ir embora e esqueça! Eu posso lhe tornar um homem rico ou sem futuro. Posso fazer sua carreira decolar ou degolar. Você é quem decide! Adeus!!
— Capitão?
— Um minuto, Clemenson... espera o carro desse filho da puta sair... Venha comigo, quero dar uma prensa naquele vigarista!
— Bem, senhor...
— Desembucha, caralho!!
— O corpo sumiu!
— Que corpo?
— O corpo da puta...
— Como assim?
— O rabecão não chegou no IML e disseram que não mandaram ninguém.
— Como assim? Espera um pouco... Ahh Meu Deus!! Vem comigo! Rápido!
— Por que a correria? Abra a porta, Norberto!
— O quê? Desgraçado!! Cadê ele?!
— Ninguém saiu por essa porta, senhor!
— Como não?! Não tem outra porta! Não tem janela? Por onde ele saiu?? Você se vendeu a ele, seu infeliz!!
— Calma, capitão! Ninguém saiu dessa sala! Eu não saí daqui nem por um segundo! Ninguém passou por essa porta!!
— Norberto! Era a única coisa que você tinha que fazer, TOMAR CONTA DESSE CARA!!!
— Ninguém passou aqui, capitão!! O que está acontecendo, meu Deus?!
— Deus não tem nada a ver com isso! Desgraçado!!
— Aqui, capitão! Uma tampa por baixo da mesa.
Uma passagem debaixo do carpete... alçapão.
— Filho da puta!! Tudo planejado!
— Fechar todos os quarteirões do entorno?
— Não! Ele já escapou... deixa a imprensa fora disso! Tudo muito bem planejado...
Tem outro problema, capitão...
— O que mais, caralho?
— O sangue no quarto e por toda a casa não é sangue humano.
— Como, Clemesson?
— É sangue de efeitos especiais. Sangue cenográfico, senhor.
— O quê??... Então... a puta ... está viva? Ela não estava morta?! Quem examinou o corpo?
— Bem, da nossa equipe, capitão, fui o primeiro a chegar aqui. Quando cheguei tinha um cara do IML examinando o corpo. Me passou a cópia do laudo dele, a mesma que te entreguei. O laudo diz que ela poderia estar morta há umas doze horas, e o cara foi embora.
— Deixe eu entender: você não conhece o cara, nunca tinha visto o cara antes, não leu o nome no laudo, não conferiu o crachá e nem sabe pra onde ele foi? E quando mandarem o pessoal do 'IML de Santos' ninguém ligou lá pra checar?
— ...
— Meu Deus!! Eu trabalho com um monte de imbecis!!
— ...
Viram mais alguém tocar no corpo?
— Não... o procedimento é só o pessoal da perícia tocar no corpo e depois que o cara do IML passou aqui, ninguém mais mexeu nele. Só preservamos o local, tiramos digitais, fotos...
— ...e agora você quer me ensinar os protocolos?
— Não, capitão. De jeito nenhum! Só estou explicando como aconteceu... e tem outra...
— Ahh meu Deus!
Não foi nosso laboratório que processou as impressões digitais de Clayton no local. Descobriram a pouco que o sistema foi invadido e as informações implantadas.
— Desgraçado!!! Estava nos manipulando desde o início! Marionetes!
Seu celular tá tocando.
— O meu não.
— Nem o meu...
— Parece que vem da gaveta...
— De quem é esse celular?
— Me dá... deixa ver... Filho da puta! É o mesmo celular que ele usou para transferir o dinheiro da conta!
— O quê? Quem... que conta?
— Desligou... mas... ora, ora!  rsrsrs  Vocês acreditam em Papai Noel?

III
III
III
III

VIII
III
A BOBA, DE ANITA
III

III

— Alô.
— Secretário?
— Jesus Cristo!! É você, delegado?! Meu Deus! Em que posso servi-lo?
— Depende... sabe aquele celular em que seu herói fez as transações? Tá comigo. Ele se mandou, mas deixou para trás como um suvenir... e quanto mais eu penso nisso, mais me convenço que me jogaram foi uma tábua de salvação... E como não existe nada de graça nesse mundo, acho que ainda vai chegar o dia que um fantasma vai parecer para cobrar esse 'favor'...
— Então... depois de duas semanas você me aparece... Quer dizer, você levou duas semanas sumido só 'fucinhando' o celular, mas aí descobriu que os dados da conta foram apagados, não podem ser recuperados e agora mirabolou uma 'teoria da conspiração'? Correto?  rsrs
— Se você visse tudo que tem nessas imagens... e alguns documentos, você entenderia que o chip que eu tenho em minhas mãos não é uma simples teoria...
Imagino que... bem... em tese... talvez você tenha ligado para tratar de sua promoção, não é? Não perde tempo, heim delegado? Quer mudar pra Brasília ou virar carioca? Melhorar o salário, que mais? Vai levar seus homens com você? Quer mais o quê? Sabe, estamos precisando de gente ‘nossa’ em Curitiba. Que ir pra lá?  rsrsr  E o Clayton?
— Evaporou. Imagino que mudou de nome, de cara. Deletou seus arquivos no sistema. Apagou até os backups, até os mais antigos e nas nuvens. Limpeza total e profissional. Nem os melhores hackers conseguiram recuperar dados importantes. A papelada sumiu também. Sabemos apenas que ele tem uma irmã que também ninguém conhece, ninguém nunca viu, pais mortos num acidente de carro, sem mulher, sem namorada, sem tios, sobrinhos, primos, amigos, nada. Nem onde nasceu temos certeza. Aliás, estão em xeque até as digitais dele no sistema... Nem mesmo o pessoal do prédio onde morava o conhecia bem. Não falava nem cumprimentava ninguém. Verdadeiro fantasma. E imagens, só as sociais. Churrascos, casamentos, aniversários...
— Pensou em tudo e teve tempo para preparar o golpe... Mas é melhor assim.
— 'Tiveram' tempo...
— Tanto faz!
— Ué?! já se conformou? Eu ficaria abalado pelo resto da vida se me roubassem um milésimo dessa grana!
— Não se preocupe, de onde veio vai vir muito mais. Ou seja, esta fonte não seca nunca! rsrs
— É dinheiro de otário mesmo  kkk  Aliás, nem sei por que estou rindo. Eu também pago impostos.
— Todos nós pagamos, homem! Bem, não vamos falar mais nada pelo telefone... Contudo, só em nível de precaução estamos monitorando algumas ilhas no Caribe... ele teve muito tempo pra preparar tudo, mas se aparecer no radar grudaremos nele.
— Com 250 contos ele pode ter a cara que quiser. Pode fazer qualquer cirurgia plástica em qualquer lugar do mundo. Aliás, pode aparecer aqui, agora, na nossa frente que não o reconheceríamos.
— Melhor assim, repito. Nosso fantasma se deu bem e todos da quadrilha. Deixa como está. Não temos o menor interesse em por as mãos nele. E se você for esperto não faça nada que comprometa o acordo.
— Tudo bem... Aliás, a primeira-dama está negociando o divórcio e vai sair do país. É possível que todos do bando que faturou seus 250 milhões de dólares se juntem numa praia da Jamaica ou das Canárias  rsrs  Vai ser uma grande comemoração!
— O dinheiro não era meu, era do partido, mas tudo bem, um dia você ganha, outro dia você perde. Assim é a vida.
— Sei não... vocês têm tanto medo deles que não vão correr atrás do prejuízo. O senhor mesmo disse que há muito já negociava com ele e que não entendia bem o porquê dele armar a sua presença na cena do crime, até você apareceu nas fotos... Sabe, essa é uma das coisas que não me saem da cabeça? Como é que ele sabia tanta coisa? Sabe a resposta? AI. Mas não é Inteligência Artificial, é Ajuda Interna!
— Ok, ok. Saímos da especulação e entramos de vez na ficção científica  rsrs  Belo progresso! Vamos pôr uma pedra em cima disso tudo e esquecer, certo? Bem... é só por hoje? Meu tempo está curtíssimo!
— Tenho certeza que sim, secretário. O senhor é um homem muito ocupado... é que... fiquei pensando também naquele quadro que Clayton escolheu para esconder as fotos do senhor com as mulheres...
— O que tem esse quadro?...
— Bem, andei pesquisando um pouco no Google, o pai dos burros online  rsrsrs  É um autorretrato de Anita Malfatti de 1916, ‘A Boba’. O que quiseram quis dizer com isso?
— Como assim? Ora, ‘a boba’ é claro que seria a mulher do governador. Uma boa piada, não!  kkk
— Não sei... andei investigado ela também.
— O que você está querendo me dizer? Vamos direto ao ponto, por favor!
— Ela está com passagens compradas para a França. Sem data de retorno. Sabe, se ela estivesse envolvida no golpe, (por enquanto não posso afirmar nada) ‘a boba’ não seria ela, e por ser uma expressão feminina não poderíamos ser nós, ou seja, você, ‘políticos’, e nós, ‘policiais’. Então, quem seria?
— Expressão feminina? ‘A Polícia’, ué!
— Não, a polícia não. Esse recado é direto, é pessoal. Pela minha experiência de policial, a mulher quando se vinga do seu homem, geralmente é mais sutil, mais inteligente. Ela não costuma matar, não faz nada violento.
— Então... você acha mesmo que a primeira-dama está na jogada.
— É só uma linha de raciocínio...
— Então... em sua opinião, quem seria ‘A Boba’?
— O senhor e a primeira-dama eram muitos íntimos, não?
— Ilações perigosas, delegado. Ainda mais por telefone! Aonde você quer chegar?
— Calma senhor! São só análises... é que achei estranho o senhor desistir da grana assim tão rápido... Vocês políticos são movidos pelo Poder, e o poder requer grana, muita grana! No meu entendimento seu partido não vai pôr mais tanto dinheiro no seu grupo. De agora em diante, outros membros vão gerenciar os desvios dos supercontratos com empreiteiras e tal. Ou seja, numa só tacada - se é que a primeira-dama queria mesmo vingança - ela lhes tirou o poder e a grana, e de quebra se livrou do marido. Além do mais, não encontramos o corpo da sua assistente em lugar nenhum. É possível que as duas estejam num tour pela Europa nesse momento... e pelo que eu soube o senhor também tem viagem marcada para Londres... e sei que se a coisa estourar, tudo foi armado pra detonar no colo de um bode expiatório... e quer melhor bode para esse escândalo que um velho delegado de polícia sem padrinhos políticos e já aposentando?
— A vida é dura, delegado.
— Secretário, nesse ‘nosso mundo’ não existe almoço de graça, existe? Por que Clayton deixaria o celular para trás? Será que ele queria te dar mais uma preocupação para dividir a atenção em cima dele? e ao mesmo tempo me dar um osso difícil de roer, mas também difícil de largar?
— Você tem uma imaginação fértil... Viajo a serviço do estado. Londres já estava agendada há seis meses.
— Nada disso. Não tenho muita imaginação  rsrs  Só deixei as ideias fluírem  rsrs  E sei que não sou um cara muito inteligente... Esse plano requer massa cinzenta. Eu conheço o Clayton, era um bom agente, mas longe de ser um menino prodígio. Se é que me entende...
Lhe entendo perfeitamente. Só não sei aonde quer chegar. Mas então, você concluiu que a primeira-dama é a mentora. Só porque tem curso superior, foi à universidade, fez doutorado e tem as paredes decoradas de diplomas?
— Isso, e porque vocês abafaram o caso muito rapidamente! como se tivessem muito mais a perder que 250 milhões de dólares! Então, comecei a pensar ‘O que vale mais para esses caras que toda essa grana?’ ou ‘Quem mais está por trás de tudo isso?’ ou ‘Quem é a peça infiltrada e que teria acesso a tanta informação?' O Clayton disse uma coisa que ficou martelando na minha cabeça. Disse que eu seria útil para fornecer o ‘bode’. Mas, a verdade é que até EU pensei que eu seria o bode!  rsrs  Imagina! 
— Você está ficando paranoico! Ninguém quer lhe fazer de bode nessa história. Nossa administração precisa de gente como você. Mas, você perguntou ‘o que teríamos a perder?’ O óbvio: o Governo do Estado, a Presidência do País... milhares de cargos comissionados, etc, etc... e ainda está insinuando que eu também levo uma parte dessa grana? Porque eu também tenho diplomas e não sou burro!
— E fazia bacanal com a primeira-dama e a assistente... Mas ‘merda quando mais se mexe...’!
— E você vai continuar a mexer nisto, delegado?
— Bem, eu... eu só queria descobrir quem seria ‘A Boba’  rhe rhe rhe
— A Boba?...
Acho que ‘A Boba’ nesse caso é a bicha do seu governador!!  kkkkk
— ...
— É uma bichona esse seu amigo  kkkk
— ...

— Ahh... e ainda tem o chip do celular...
— O chip do fantasma? ahh por favor! Esse chip também já é fantasma. Vamos esquecê-lo, tá certo? Tudo isso é passado. Deleta! Destrua! Esqueça!! De agora em diante só pense no seu brilhante futuro!
— Ôpa!! Gostei do ‘Brilhante Futuro’!  rsrs  Bom, senhor, o chip com todas as imagens está neste celular que ganhei de suvenir. Os vídeos, as fotos... está tudo aqui comigo.
— ...
— Alô? ainda está aí, secretário?
— O que vai fazer?
— Aí depende... acho que precisamos conversar... pessoalmente. O que o senhor diz? Afinal, preciso te contar como descobri que o Bode Expiatório não sou eu, meu chapa!

 

 

 

 

 



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